sexta-feira, novembro 14, 2008

Nos Guetos há Pessoas


Nos Guetos há pessoas, homens, mulheres, velhos e miúdos. É de lá, que de manhã, quando o sol ainda não nasceu, as pessoas saem para o trabalho, para serem exploradas no centro arranjadinho da capital. É ali, nos guetos, que a polícia entra como se estivesse num campo de guerra, fechando a livre circulação, de polegar no gatilho da shot-gun, a bater as ruas onde os putos jogam à bola.

Os guetos tiveram 2 fases, a do tempo das barracas e a do tempo dos bairros sociais (sendo que a primeira ainda não acabou). Quando os imigrantes do mundo rural e de África chegaram sem dinheiro à metrópole, a única solução para ter uma habitação era construí-la num destes bairros. Na época eram bairros muito periféricos, mas em geral ficavam próximos das vias de acesso, exemplo disso eram e são, o Bairro das Marianas em Carcavelos, a Cova da Moura, o 6 de Maio, o Estrela de África na Damaia/Buraca, o Santa Filomena na Amadora.

Mais tarde, muitos anos depois, a cidade cresceu para limites mais longínquos do que esses bairros e os seus terrenos tornaram-se valiosos, porque se encontravam agora muito melhor posicionados.

Depois, os Governos e principalmente as Câmaras Municipais, aproveitaram-se do discurso que esses bairros não tinham condições, eram antros de violência, e assim expulsaram as suas populações para longe de tudo, meteram as pessoas em sítios isolados, em vales à sombra, ou em montanhas ao vento, a viverem em torres cinzentas ou em torres com cores berrantes. O que estava em questão não eram as condições das pessoas nem os problemas desses bairros, mas sim, o valor dos terrenos que ocupavam.

Esses bairros também têm a sua voz e um dia as suas Lutas se transformarão em liberdade e igualdade, não haverá uma cidade bem ordenada, bonita e onde as pessoas se integram, sem haver igualdade social.


_pedro (foto da cova da moura diogo)

fotos ( Cova da Moura, Quinta da Fonte, 6 de Maio/ Estrela de África)

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