quarta-feira, maio 23, 2007

"Nos dias de hoje para que serve a selecção?
Quer se trate do trigo, do arroz ou de qualquer outro cereal, faz-se incidir os esforços nalguns cultivos de alto rendimento. Mas estes são de tal modo eficientes que levam ao desaparecimento de todas as variedades regionais elaboradas pela agricultura desde há dez mil anos. Constituiam porém uma imensa riqueza, porque eram muito diferentes umas das outras(...)Ora, como vimos, uma estirpe de trigo é pouco adaptável: se o meio muda, corre o risco de não sobreviver. A adaptabilidade, ou seja, a diversidade genética, situa-se na multiplicidade genética, situa-se na multiplicidade destas variedades que estão em vias de desaparecer
Reencontramos o mesmo fenómeno para outras plantas cultivadas?Quase todas. Verifica-se um empobrecimento da biodiversidade nos quatro campos do mundo.
Será realmente perigoso?Por vezes uma variedade degenera um pouco.Perde alguns caracteres de rusticidade, de cor de gosto...Dantes, o camponês recruzava-a então com uma variedade vizinha para a revigorar, para que se recuperasse os seus caracteres.Hoje, no entanto abandonou-se por toda a parte as velhas variedades locais. Isto sucedeu tão rapidamente para as catalogar, conservar, coleccionar...E nem todos os paises dispuseram de meios para organizar locais de conservação destinados a salvar as variedades que deixavam de ser cultivadas. Empobreceu-se o património genético das plantas cultiváveis e corre-se o risco de se sofrer as consequências no futuro. Actualmente envidam-se os esforços e tenta-se, enfim recuperar o que é recuperável. Mas acordámos demasiado tarde! No Vietname, por exemplo, uma grande variedades de arroz acabam ainda agora de desaparecer, varridas pela concorrência do arroz de alto rendimento.
Não obstante, constata-se um desenvolvimento do mercado do arroz local...
É um logro...Os "basmati", "Caxemira" ou "tailandês" que vemos nas prateleiras dos supermercados não passam de variedades de alto rendimento nas quais se reintroduziu um pouco de diversidade. São certamente cultivados nas regiões de origem, como vem anunciado nos pacotes, mas não lhes resta grande coisa do verdadeiro arroz regional(...)"


em " A mais bela história das plantas", entrevista com Marcel Mazoyer, edições Asa

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